Fazendo parte de um grupo de alunos muito especial, era natural que num momento de reformulação do ensino na faculdade, Flávio Império fosse chamado (Abelardo de Souza foi responsável por isso) para dinamizar o estudo de arquitetura. De imediato passamos a lecionar juntos (na época eram dois instrutores por turma) e embora eu tivesse sido sua professora tínhamos uma relação muito paritária, o que possibilitou ao Flávio, creio, desenvolver novas práticas de ensino a partir das críticas que tinha como ex-aluno.

Trabalhávamos as questões relativas à construção da forma e não exatamente as questões de arquitetura. Eram programas abertos para a discussão daquilo que os alunos iam necessitar como repertório capaz de ajudá-los não só do ponto de vista da técnica senão da própria expressão do desenho. Nesse sentido, a programação não deveria  ser excessivamente acadêmica e nisso o Flávio era ótimo, criava situações de muita estimulação para os alunos, tinha a noção do espetáculo.

Embora de temperamentos distintos, nós nos entendíamos bem e nos complementávamos, concordando plenamente nas questões fundamentais. Criávamos um equilíbrio que inclusive para os alunos era muito importante: ele tinha grande entusiasmo pelo que estava acontecendo, então animava muito os alunos enquanto eu chegava com um balde de água fria: não, não é esta maravilha que todo mundo está achando não! Vamos ver isso de perto, um por um, e fazer uma dissecação de cada trabalho. Efervescência seguida de crítica.

Para os alunos era ótimo pois o trabalho se apresentava vivo pelo Flávio e quando chegava o momento de um exame mais racional e analítico, enfim de botar as coisas em ordem para poder fechar alguns programas, eu assumia o comando, de modo bastante natural, sem combinação prévia.

RENINA KATZ