FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO - USP | X |
O posicionamento da Faculdade frente aos cursos ministrados por Flávio Império era dúbio, a direção da escola era muito insegura, achava que estas coisas podiam criar canais de liberdade perigosos para a época. Mas era complicado impedir sua atuação porque os alunos participavam, não em massa, mas havia um grupo que achava aquilo importante. Ele não estava desamparado, tinha meu apoio e quando surgia qualquer impedimento ou alguma censura tinha uma posição muito firme: não estávamos ali fazendo experimentos circenses. Havia um programa estruturado, uma pedagogia. Os procedimentos cada um escolhe o seu, não é obrigatório seguir uma tradição. Então tinha resistência, não tinha resistência, e a coisa ia meio que rolando. E Flávio era respeitado como um profissional talentoso e sério, com uma biografia que lhe dava sustentação.
Quando decide se afastar da escola o faz em função de um projeto de vida dele. Não achava que a FAU fosse o começo e o fim de sua trajetória, era um percurso mesmo. Àquela altura, encontrava-se numa encruzilhada pessoal e a Faculdade talvez não fosse o território ideal para continuar: as exigências burocráticas o chateavam muito, não tinham nada a ver com seu temperamento. A falta de recursos era permanente, às vezes tinha que inventar, solicitar aos alunos uma certa inventividade também na busca de recursos fora da escola. A Universidade tinha uns problemas graves, ele não era burocrata, não estava lá preocupado em fazer carreira. Queria o ensino como um território de experiências enquanto a universidade se fechava. Então em certa hora deve ter dito: está muito chato, vou-me embora!
RENINA KATZ