Há quem se sinta profundamente moderno por afirmar que o nosso século é “caótico” e que o mundo do nosso tempo é “non sense”.
Essa atitude subjetivista resguarda o sossego da neutralidade incentivando o conforto heroico-masoquista dos dramas pessoais.
As relações humanas nunca foram cartesianas, a não ser em épocas cujos limites são oficialmente definidos. Para isso é necessário que se empregue a força, uma vez que o objetivo é reter a história.
O “caótico” nasce de uma comparação simplista da aparência dos fatos ou duma ânsia idealista de significações finais para a “explicação” do Universo.
Os sistemas não finalistas e móveis permitem conhecimento. Conhecimento como forma de participação e não como explicação definitiva, instrumento de verificação e não “a verdade”.
Nosso esforço de análise procura uma estrutura de fatores que inclua ocorrências, muitas vezes tidas como menores, num processo mais amplo de significados.
A arquitetura dos últimos trinta anos desenvolve-se paralelamente a uma aproximação crescente do aburguesamento da economia pré-capitalista brasileira, apresentando aspectos altamente contraditórios se vistos à luz do seu real significado enquanto atividade social e criadora.
Seu emprego como obra de arte restringe-se a uma colocação de classe que reserva para algumas obras especiais: a monumentalidade dos edifícios oficiais e o refinamento das residências mais caras etc., subestimando sua origem mais representativa.
A limitação do seu significado social afasta a arquitetura dos vínculos mais objetivos com a realidade, permitindo distorções que a impedem de agir no seu verdadeiro campo.
Sua manifestação isolada esbarra, inevitavelmente, na incoerência do seu isolamento, perdendo-se na irracionalidade do processo de urbanização no seu conjunto.
Brasília é o único momento mais amplo na arquitetura brasileira e, assim mesmo, sua realização prende-se à colocação de elite da obra de representação.
Flávio Império
FLÁVIO IMPÉRIO