pelo sertão
nas estradas
vilas e rios
povoados
cidades matas
caatingas
campinas serras
serrados
o povo habita,
faz tempo.
em mutirão faz seu teto
parentes tribos
vizinhos
refazem fazem repetem
seu tipo de construção.
pau roliço
barro
palha
água
fogo
braço
mão
telha de barro, tijolo
chão batido, coração.
do barro o pote
a panela
do barro o forno
o fogão
do barro a casa primeira
no campo santo, seu chão
favelas despinguelando
palafitas mar entrando
bairros novos
novas vilas
onde encontra um de comer
sobrevive
constrói seu mocó
reside
sem alvará
sem licença
planta
corte
elevação
porém guardam na fachada
o cuidado da aprência
que revele por inteiro
disposição pra decência
seu bom gosto para as cores
habilidade nas formas
nos recortes
nos recheios
nos desenhos
nos floreios
cada casa tem seu dono
cada dono opinião
mesmo roto no fundilho
lava a cara, faz a barba
recorta bem o bigode
retira as sobras dos pelos
das sombrancelhas,
cabelos
bota ruge
põe batom
prende bem com grampo e fita
brilha brinco
brilha olho
rebrilha
colar de ouro, pulseira
brinco e anel
faceira,
a casa é caiada
pelo Natal
cada ano
casca cara
casca casa
desse caroço vida
campo santo do repouso
no santo campo do chão
João de Barro ou da Silva,
faz sua casa com a mão;
ninguém diz que é arquiteto,
é João.
Flávio Império
FLÁVIO IMPÉRIO