CASA JUAREZ BRANDÃO LOPES | X |
Em 1968, Flávio e Rodrigo projetaram a casa do professor Juarez Brandão Lopes. Ainda as abóbadas, mas utilizaram um modo novo, com faces “abertas”, voltadas para os lados e fechadas por duas imensas bibliotecas. Os materiais, como sempre, são os de todos os dias: tijolos, vigotas de concreto e tijolo furado, madeira maciça e compensada, vidro, placas de cimento amianto, cimento queimado. Os tijolos aparentes compõem as paredes de banheiros e cozinhas (os volumes “molhados”) e a biblioteca; as vigotas e os tijolos furados são reservados para os elementos estruturais, abóbadas e laje intermediária; a madeira maciça fornece os montantes e a compensada portas e portinholas; o cimento amianto forma os brise-soleils e o queimado pisos, assentos, planos de trabalho etc. Esta enumeração é importante: o objetivo era obter a síntese material/ função/ equipe, cada equipe realizando uma função bem determinada com seu ou seus materiais específicos.
Arquitetura tem também dimensão icônica, é imagem do processo de projetação. Na casa do Juarez a clareza funcional e construtiva espelha fielmente o rigor generoso da concepção. A estrutura da manufatura não dominadora guia totalmente a escritura do projeto. Nenhum modelo, fora talvez a referencia “intertextual” ao brutalismo então dominante, vem perturbar este rigor. Todos os componentes construtivos/ funcionais ganham particularidade, tomam caminhos próprios, se concentram em volta de seus diagramas essenciais. Uma metáfora, a forma de asa da cobertura, polissêmica, valendo também como interpretante para a família Brandão Lopes. Tanto o traçado do projeto quanto o feitio operacional de cada tipo de trabalho depositam suas marcas, seus índices no resultado final; todo gesto técnico solicitado pela obra, sem acento fingido, se grava e permanece na matéria que o recebeu. A gramática peirceana ensina que somente o índice pode ocupar a posição do sujeito na proposição; na casa do Juarez todos os “sujeitos” falam e falam em coro ainado. Não há símbolos – a não ser, talvez, mas nunca falamos disto, o tapume de livros protegendo o canteiro do professor. A obra é perfeita.
SÉRGIO FERRO