ALEGRES PINTORES DO BEXIGA
(1977)

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  • ÁLBUM (3/11)
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    Caras Cascas Máscaras
    Flávio Império
    1977
    Álbum impresso lançado durante a exposição Alegres Pintores do Bexiga

    Acervo Flávio Império

    AUTOBIOGRAFIA

    este trabalho tem dedicatória
    coisa antiga que ainda vigora (como vigora também, ainda, apesar de antigo
    termo, e como o termo, o verbo e o provérbio:)

    "não adianta querer torcer, quando grande, o pepino."

    Tarde demais quando quiseram corrigir meu jeito e o meu mau jeito.
    Nem um nem outro mudaram.
    dedico o meu trabalho a quem amo.
    nasci no Bexiga e lá me criaram,
    por certo, um dia, eu virei "arquiteto".
    depois "professor".
    depois "cenógrafo".
    depois "pintor".

    desenho desde criança
    o teatro me fez amigo da multidão
    a arquitetura me fez amante da terra, da água, do ar, da lua, da cor,
    da matéria, do fogo, do som,
    o ensino me fez aluno da mansidão.
    a pintura é meu diário, sem segredos, da peça em que sou
    atuante e autor.
    pinto só o que sinto
    pinto só o que vejo com todos os meus sentidos.
    não pinto em vão, sonho com a hora de alguém sonhar junto, livre,
    o que quiser, como quando reconhece num canto
    seu canto e canta.
    pinto prá me acompanhar, no fantástico show que a vida me dá.
    desde 1970 pinto mais constantemente,
    arquiteto meu quarto dentro do quarto que
    moro (ele é calmo e claro)
    arquiteto meu jardim sobre o piso de lajotas que alugo, barato.
    arquiteto meu sonho de uma arquitetura simples e clara,
    e calma, com jardins de flores caipiras que, pelas estradas não cusata nada
    a muda, além de uma boa conversa e uns bons conselhos sobre a vida
    da plantinha, quebradinha que espera na minha mão.

    e o que colho?
    ao longo do meu caminho, muitos agradecimentos, conselhos, bons tratos,
    de gente que gosta de gostar das coisas que a terra dá.
    planto e colho prá plantar. colho o que planto, prá rimar.

    meu pai: Domingos Império
    minha mãe: Helena Fausto
    filhos de tantos italianos que no Brasil procuraram seu novo céu.

    no Bexiga, 42 anos em dezembro, sob o mesmo céu
    escolhido por meus avós
    "respirando o mesmo ar…"

    essas fotos aqui reproduzidas são pedaços, formados de muitas telas e
    completados por todas as que não foram pintadas, por preguiça,
    desgosto, cansaço e resfriados.
    pedaços escolhidos para as fotos:
    rostos
    caras
    carapaças
    cascas
    máscaras
    que passaram por mim e sorriram,
    que passaram por mim e me olharam,
    que passaram por mim e conversaram muito,
    enquanto com uma mão eu fumava
    com a outra desenhava
    e depois
    com uma mão eu fumei e com a outra pintei
    sozinho e sempre muito bem acompanhado.

    FLÁVIO IMPÉRIO

    ALEGRES PINTORES DO BEXIGA
    (1977)