CENTRO DE ESTUDOS MACUNAÍMA
(1974-1976)

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    Trecho da entrevista para Marcelina Gorni
    2003
    Flávio Império – arquiteto e professor.
    Marcelina Gorni
    Dissertação (Mestrado) - EESC-USP, 2004

    © Roberto Freire

    A Myriam Muniz e o Sylvio Zilber fundaram o Centro de Estudos Macunaíma, voltado para a formação de atores, e eu acabei sendo convidado a ir morar e trabalhar lá. Àquela época, início dos anos 1970, eu estava criando uma terapia corporal baseada na obra de Wilheim Reich, e eles também estavam estudando essas teorias novas todas, da expressão corporal, do desbloqueio da criatividade como uma coisa fundamental pro ator poder se expressar plenamente, a descoberta da originalidade única de cada um. Fui pra ajudar a Myriam com o trabalho de separar o que era um bloqueio psicológico natural, de formação, de um bloqueio de natureza psicológica.
     
    E o Flávio, que eu conhecia desde a época do  Teatro de Arena trabalhava lá, era uma espécie de mentor que orientava os exercícios de desbloqueio da criatividade aplicados. Para que eu entendesse seu trabalho, Flávio convidou-me para assistir uma aula dele na FAU. E nessa aula pedia o seguinte: “desenhem o que vocês quiserem” . O pessoal de papel e lápis, desenhando até que ele pediu para que entregassem os desenhos. Então iniciou um trabalho de sensibilização corporal, de desbloqueio da energia, muito parecidos com os da Myriam no teatro e muito parecidos com os que eu estava sonhando em fazer para trabalhar com a psicologia do corpo, pra desbloquear a energia corporal. Só que eu não tinha chegado àquela perfeição de exercício que ele deu...
     
    Eu sei que ele pediu para as pessoas tirassem o máximo possível de roupa, colocou uma música e pediu pro pessoal começar a dançar. E ele ia orientando os movimentos, maior ou menor intensidade, de modo que as pessoas que começaram tímidas, assustadas, inseguras depois de um certo tempo estavam quase que dançando como bailarinos, com uma expressividade corporal muito maior. Quando terminou o exercício os alunos estavam cansados, ele disse: “agora vamos para a prancheta e vocês farão o mesmo desenho, exatamente o mesmo que fizeram”. Depois ele colou na parede os desenhos de antes e pediu para que todos olhássemos. Era uma coisa impressionante a mudança: os desenhos ficavam muito mais livres e inventivos.
     
    Depois disso eu me convenci e em todo o trabalho que eu criava pedia pra que ele opinar. E começamos a desenvolver novos exercícios juntos, era o embrião do Soma: eu aproveitava para utilizar exercícios que eram para desbloquear a criatividade como exercícios para romper bloqueios emocionais psicológicos graves, havia uma profícua troca entre nós.

    ROBERTO FREIRE

    CENTRO DE ESTUDOS MACUNAÍMA
    (1974-1976)