LIVRO SOBRE CENOGRAFIA | X |
O "livro sobre cenografia" é, realmente, uma necessidade real. Passo, sempre. uns minutos, explicando aos meus alunos porque não sei explicar "como se faz".
Eles até fazem xerox de livros, porém, nunca começam a ler, ou trabalhar com os amadores que eu sugiro.
Preferem ficar meio atrás de mim, para ver se "sacam" algumas. Eu não me nego a pensar exatamente como penso, que teatro, só fazendo.
Ou na cabeça, na mente, lendo, vendo, imaginando: ou na real ação das relações entre todas as partes do espetáculo.
Agora, "como faço para começar?" Sem ter a menor iniciativa da prática da "imaginação teatral" ou da prática de transformá-la em coisa teatral mesmo, ninguém avança.
E todos que me perguntam querem respostas simples.
Eu complico para explicar o que é simples, para mim, fazer.
Se isso for "teoria", na prática não funciona.
Tento despertar a noção de "forma" como maneira de agir com a imaginação que ao mesmo tempo vê e constrói, constrói e vê além da simples construção - a cena.
Se isso não é o impulso específico de quem me procura, não consigo orientar.
E se ele for muito forte, aí que não consigo "orientar", porque quem me pergunta já está se orientando. Por si mesmo.
Essa faixa específica que eu consigo atender é dos esquecidos de lembrar.
Eu só lembro. Não ensino.
Acho que isso não está errado, porque o "professor" ou "Iembrador" deve se dirigir à faixa de pessoas que o entenda.
Os que já se lembram . os autodidatas. não precisam disso.
Os que não se lembrarão jamais é porque são de outra área – os desorientados.
E, hoje, quase 100% dos "alunos" que eu "tenho" são desorientados sociais.
Não tenho a menor vocação para "orientação social".
Acho um saco essa função ...
Daí ser, para mim, dificílimo fixar um método de análise ou uma sistemática precisa. Trabalho por intuição direta. E com muita "explicação".
Porém, tudo são assuntos muito complicados para se ficar decifrando e didatizando.
Ao surpreender meus alunos, eu os impulsiono.
Por impressionar meus alunos, eu os devolvo a si mesmos.
Detesto qualquer tipo de "adoção".
Cada um que se "apegue" à sua própria capacidade de criação, na área que acontecer ser. No Brasil quase não existem em arte.
Poucos têm seu sustento garantido pela sua "produção artística genuína". O mais das vezes são "bicos".
O "artista" vai "bicando" migalhas que os mecanismos dos sistemas e empresas jogam (como se joga peixe aos golfinhos).
A gente sai dançando, dando pinotes, soltando sons como cantando, porque não tem outro jeito. A "cultura" e a "civilização" são um aquário de antiguidades ou "raridades". E o golfinho é singelo, inofensivo e engraçado (quando não, "engraçadinho")
E o gosto "kitsch" do freguês faz a arte (acontecer).
FLÁVIO IMPÉRIO