Apesar de todos os esforços, aprendi pouco e mal.
Pintar tornou-se um habito a que recorro, nos intervalos entre atos, do palco. Um jeito de brincar com meus botões.
O palco é a cidade, casa, a rua, o mato, o rio, o campo, a praia, a praça, à luz das ilusões.
Surpreendo-me com os anacronismos, agindo no sentido de mudar e transformar tudo em contemporâneo. (já é vício).
Tomo cuidados em não tirar do velho, aquilo que nele seja eterno, nessas operações delicadas sou extremamente desastrado.
Fui sentindo, com o passar do tempo, que a sociedade do meu tempo prefere o joio ao trigo, confundindo os trilhos.
Pasmo com a iniquidade,
perplexo com a ignorância,
boquiaberto com a hipocrisia,
desanimei com a “sapientiae” do “homo” e me senti mergulhado na realidade humana, como um náufrago entre escombros.
O brilho das ciências e das filosofias se perpetuou em velhas cristaleiras, solto em nuvens, como estrelas.
Entre o quintal e o palco vivo atordoado com o trânsito e as notícias.
Desconfio que isso seja a maturidade, a idade em que se fica pronto a despencar do pé, e retomar o ciclo da semente.
Pintar é um ato de prazer.
Uma ação surpreendente.
Um gesto que escapa.
O resto são consertos, tentativas de acerto, arremedos.
Pintar é o avesso do medo.
Pinto como quem se permite caminhar sobre os erros.
FLÁVIO IMPÉRIO