EXPOSIÇÕES - ANOS 1960 | X |
A pintura nova tem a cara do cotidiano. Cansada da adolescência intimista do informalismo e tachismo, saturada da problemática subjetiva das neuroses inconformistas, é objetiva, despudorada e direta, típico produto da classe média consumidora. Muitas vezes é a própria imagem dos produtos de mercado.
Na falta de uma perspectiva de futuro, a classe média se compraz na adoração das delícias e belezas – de interior das geladeiras bem nutridas da sociedade de consumo – que a gerou: os Estados Unidos. Onde se via uma santa ceia à Da Vinci, vê-se hoje uma enorme lata de salsichas. A Gioconda cede lugar à Elizabeth Taylor, sorrindo levemente em quatro poses diferentes. Em lugar da Estátua da Liberdade, logo se verá um enorme fogão, cozendo suculentos pratos de enlatados.
Tendo por horizonte o pequeno mundo doméstico e urbano em que vive e por objetivo entoar seus hinos pátrios, a “pop” participa do grande culto à produção para consumo direto. Divorciada da “pintura”, liga-se à “publicidade” e dela se nutre, bem alimentada e sadia, eufórica e próspera.
Entretanto o mundo está em crise, e atualmente os conflitos são resolvidos à bala, sem mais aquela. Claro, com super-homem, homem-borracha, homem-morcego, batman, capitão Marvel, fortalecidos por espinafre, quem pode? E com isso se preserva a base dos lares da classe média, suas geladeiras e seus enlatados.
A pintura nova brasileira é filha da “pop”, mas sem dúvida a ovelha-negra. Usa sua linguagem e responde – aos murros e pés-do-ouvido, mostrando o reverso da moeda. Como aprendiz de feiticeiro aprende a linguagem da publicidade e mostra que o rei está nu. – como são valentes os “generals in general”, “motors eletric”, “and so on”.
U.S.A. ARMY NEEDS YOU!
But who needs USA Army?
Muita gente acha minha pintura agressiva. Será? Nos tempos que correm qualquer notícia de jornal é muito mais. Ou se lê muito pouco, ou existe uma crise generalizada de hipersensibilidade...
FLÁVIO IMPÉRIO