OS FUZIS DE DONA THEREZA
(1968)

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    Trecho entrevista de Flávio Império a Maria Thereza Vargas e Mariângela Alves de Lima
    Exposição REVER ESPAÇOS
    Centro Cultural São Paulo, 1983
    Acervo Flávio Império; Prefeitura de São Paulo/ Secretaria Municipal de Cultura/ Centro Cultural São Paulo

    © Flávio Império

    Os Fuzis de dona Tereza foi o carro alegórico que puxou para fora o máximo de meu conhecimento. O "cordão"  tinha decidido que o tema era aquele e eu seria o técnico que iria organizar a linguagem com a eficiência que, evidentemente, toda vez que um técnico se põe a trabalhar, exige.

    Os Fuzis de dona Tereza foi também um espetáculo feito em cima de um outro que eu já havia feito. Fiz Os Fuzis da Senhora Carrar ainda no Teatro de Arena, em 1962, sob direção de José Renato. A coisa de que mais gostava é que a peça tinha poucas páginas. Detesto peça comprida. Peça curta você lê e entende tudo, e é aquilo mesmo que você leu, sem muitas divagações de segundos, terceiros, quartos atos. Ser curtinha permite a você ficar mais entretido, com o tema básico, trabalhar melhor esse tema básico. Dava para fazer como uma composição orquestral curta, concentrada, condensada, principalmente porque essa segunda montagem que eu dirigi era feita por estudantes que conseguiam, no máximo, uma voraz e rápida passeata.

    Não aguentariam nunca o percurso que o Prestes fez com a "coluna" pelo Brasil inteiro e muito menos a longa jornada da China e, no caso da "muralha", que fosse uma bem pequenininha. O resto já se sabe que é daquele jeito...

    Qualquer estudante ou pequeno burguês se cansa logo de qualquer assunto e quer mudar. Então a peça curta é o melhor para males curtos mais curtos. Focalizamos um determinado assunto, tratamos dele o melhor possível, mexendo no tema das mais variadas maneiras, desde o "bater da massa do pão" até a alegoria do grande bispo que traduz o discurso do generalíssimo Franco. As matracas substituíam as falas das mães e das mulheres porque em meio à guerra todo mundo matraqueia e a fala da mãe é sempre um terror, um lamento de mater dolorosa. E foi em cima desse lamento que fiz o material ficar passeando.
    O Cristo na cruz estava garantido porque tinha sido escrito assim. E o lamento dela estava já escrito como um grande oratório intercalado com o discurso de um padre compreensivo, do irmão exasperado, da namorada desesperada. Discurso doloroso de uma mãe que não quer ter nos braços o filho morto e mesmo assim isso vai acontecer. Na verdade, é um tema que mais ou menos trabalha em cima do inexorável do destino humano e onde o social engole a vontade particular. por melhores que sejam as suas intenções, a vida ou a morte não dependem de você. A discussão do fato é mais além.

    FLÁVIO IMPÉRIO

    OS FUZIS DE DONA THEREZA
    (1968)