OS FUZIS DE DONA THEREZA
(1968)

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  • REPERCUSSÃO (1/4)
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    Alberto D’Aversa
    Diário de S. Paulo
    01 de junho de 1968

    Acervo Flávio Império

    © Alberto D’Aversa

    Uma direção chamada Flávio Império – I

    Entre os vários méritos de teatro feito por e para os estudantes universitários, os mais importantes são, a meu ver, a apresentação estimulante e polêmica de textos inéditos, ou de reconhecida valia, e o nascimento ou a confirmação, de ótimos diretores novos. Desta vez, a surpresa nos foi dada pelo TUSP. O texto escolhido era a velha e cansada peça em um ato de B. Brecht, Os fuzis da Senhora Carrar, que o público paulista já conhecia através de uma anterior versão, pferecida pelo Teatro de Arena numa esplêndida interpretação de Dina Lisboa.

    A peça, de um didatismo primário, pertence à fase em que Brecht, depois da experiência Piscator, começava a formular sua teoria sobre o teatro épico e foi escrita, coisa que não convém esquecer, sob a solicitação de H. Weigel, sua esposa e excelente atriz (que já, antes da Mãe Carrar, tinha interpretado, numa adaptação de Brecht, A Mãe, de Gorki e, mais tarde, interpretara a famosíssima Mãe Coragem onde alcançara o ponto mais alto de sua arte de intérprete).

    Peça, portanto, de protagonista absoluta, onde a mãe, epicentro dramático de toda a estória, não comente conduz e determina situações mas provoca o comportamento de todas as outras personagens que vivem, quase que exclusivamente, em função de réplica: típico exemplo de uma dramaturgia clássica construída toda em redor, e em função, de um caracter central, responsável da tese do autor.

    Flávio Império se manifesta, de imediato e surpresivamente, como diretor lúcido e, intrinsecamente, revolucionário, não tanto pela série de invenções autônomas que enriquecem is vaalore slógicos e emotivos do texto, quanto pela fundamental impostação do espetáculo onde os termos propostos por Brecht são reformulados numa nova visão dramatúrgica que desloca o epicentro do drama da Mãe Carrar para o Coro, ampliando a dimensão dramática do texto que passa a significar Brecht mais através da participação coletiva que através da singularidade da emoção da potagonista. E tudo isso sem danificar, alterar ou mistificar as intenções do autor, mas, pelo contrário, dilatando-as para uma compreensão e uma comunicação mais atuais e atuantes.

    (A operação realizada por Flávio, é análoga àquela revolucionária de Eleonora Duse quando, interpretando Os Espectros de Ibsen, teve a coragem de colocar no centro do drama não a figura de Osvaldo, segundo as indicações confessas e manifestadas pelo próprio autor e pela sucessiva tradição dos atores-intéroretes do célebre drama, mas a figura da Senhora Alving, a mãe, criando assim dois epicentros dramáticos, e configurando portanto uma nova geometria na velha estrutura tradicional que, porteriormente, sobre esta intuição genial da Duse, se lançara para conquistas definitivas para a moderna estrutura dramatúrgica.)

    O mérito deste espetáculo reside principalmente na direção; isso porém não exclui os elogios para os jovens intérpretes, injustamente escondidos num anonimato de franciscana memória, impróprio para tempos de clamoro ruído. (cont.)

    ALBERTO D’AVERSA

    OS FUZIS DE DONA THEREZA
    (1968)