REVEILLON
(1975)

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  • DEPOIMENTOS (2/2)
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    Depoimento de Iacov Hillel
    Exposição REVER ESPAÇOS
    Centro Cultural São Paulo, 1983
    Acervo Flávio Império; Prefeitura de São Paulo/ Secretaria Municipal de Cultura/ Centro Cultural São Paulo

    © Iacov Hillel

    No trabalho do Flávio, não tem um elemento que ele coloque em cena, que não seja absolutamente significante, seja no figurino ou numa peça de cenário. Ele ambienta o lugar da ação, fabrica climas e tudo tem um sentido. Não há nada que não esteja de acordo com o conceito a ser transmitido.

    Posso ressaltar quatro características que vi no trabalho de Flávio Império ao longo do tempo. Primeiro, como um arquiteto do palco, ele produz contruções milimetricamente desenhadas - me lembro de O filho do cão ou de A falecida; segundo a preocupação de fazer o cenário ou o ambiente envolver o espectador fazendo tanto o espaço quanto a ação teatral circundá-lo; em terceiro lugar eu colocaria o trabalho com os materiais. No Reveillon, por exemplo, o cenário leva ao palco milhões e milhões de tipos de materiais e objetos diferentes. Cada um trazendo ao espetáculo sua energia. É uma espécie de "atulhamento" que coloca em cena um repertório enorme de matérias e signos. Cada elemento de cena tinha a energia do objeto, de onde ele veio, de onde Flávio foi buscá-lo. Isso acontece também no Pano de boca, uma beleza de cenário. Para qualquer lugar que você olhasse, o espaço estava gravado, tinha um símbolo, tinha uma resposta. Ele busca isso mesmo. Se se trata de um cenário de madeira é a madeira em si que salta, com sua energia, sua resposta característica tanto do ponto de vista sonoro quanto de sua textura visual.

    Eu queria falar de mais um elemento, que é o da veladura, quer dizer, como se numa outra fase de seu trabalho, essa coisa construtivista passasse por uma veladura. Então ele passou a esticar os panos, além de construir o cenário, como uma engenhoca bem construida, ele passou a velar coisas e revelar outras coisas através da transparência.

    Então a primeira idéia, dentro desse conceito de veladura é tapar o que está construído e a segunda é a idéia em si da transparência, que é um trabalho que ele vem desenvolvendo cada vez mais, é onde ele está hoje. Os elementos colocados em cena criam, dependendo da luz, um ambiente fechado e, ao mesmo tempo, a saída, o céu, um espaço além.

    IACOV HILLEL