TODO ANJO É TERRÍVEL
(1962)

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    28 de agosto de 1962

    Acervo Flávio Império

    Os Anjos Terríveis

    Como já é norma em casos semelhantes, Look Homeward Angel, a excelente novela de Thomaz Wolfe, perdeu muito de sua força e grandeza na adaptação para o palco. Isto apesar de Ketti Frings, perfeita conhecedora da carpintaria teatral ter montado uma peça atraente, com diversas cenas excelentes e sobretudo usando com maestria os truques do melodrama burguês. Mas diversos fatos importantíssimos do livro, passagens excelentes, personagens vários foram esquecidos na transposição, que chegou mesmo a modificar totalmente um personagem importante como o de “Helen” (irmã do escritor), suprimindo-lhe o marido e a transformando numa solteirona empedernida. E: mais a adaptação tornou pequena aquela grandeza vibrante do jovem Thomas Wolfe em sua luta contra os sufocantes laços familiares pequeno-burgueses e que pretendia descrever toda a América, abraçar o mundo e modifica-lo.

    Mas embora pequena perante o romance, Todo Anjo é Terrível tem o principal mérito de revelar ao público brasileiro alguns traços de um dos principais escritores norte-americanos de nosso tempo, e em especial, possibilitar ao Teatro Oficina um dos melhores espetáculos do presente ano, pelo menos o melhor atualmente em cartaz na cidade. A peça é uma crônica de família, cujo tema dominante é o contraste entre o caráter do pai, desejoso de passar por toda a sorte de experiências humana e o da mãe, que desejava apenas possuir coisas e pessoas. Entre essas duas forças, com a segunda sempre vencendo, situava-se Wolfe. Alertado por seu irmão mais velho, que sucumbiu entre os sufocantes laços familiares, Wolfe sabe que seus planos imenso, seus sonhos de artista, estão ameaçados pela prepotência materna (símbolo de uma sociedade em apodrecimento, baseada na posse de bens) e quer fugir. No final acaba por se livrar e sai. Aqui termina a peça.

    Três são os sustentáculos do excelente espetáculo do Oficina: José Celso Corrêa, o diretor; Flavio Império, o cenógrafo; e madame Morineau, a interprete de Elisa Gant. José Celso é o principal cultor do realismo em nosso teatro. Em sua segunda direção demonstra um enorme salto evolutivo e um domínio sobre todo o espetáculo, que cresce num ritmo exato, com os interpretes movidos por motivações verdadeiras, fugindo dos clichês e dos lugares comuns. Valeu-se muito dos estudos contínuos que vem fazendo do método Stanislavski e da experiência do “Actors”. Sua direção de atores é surpreendente conseguindo com que até os inexperientes rendam o máximo. O cenário de Flávio Império é quase um milagre: num pequeno espaço cênico, jogando com estruturas de ferreiro, recria a velha pensão “Dixieland” e um clima de decadência. 

    TODO ANJO É TERRÍVEL
    (1962)