OS INIMIGOS
(1966)

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    Moracy do Val
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    Acervo Flávio Império

    © Moracy do Val

    Os Inimigos no TBC

    O diretor José Celso Martinez Corrêa, do Oficina, nos acostumou, nestes últimos anos, a esperar sempre o melhor de seu trabalho, mas mesmo assim, ao depararmos com suas encenações, nos surpreendemos, pois o máximo que dele esperávamos torna-se sempre pequeno comparado ao que ele realmente nos dá. É o caso de Os Inimigos, de Máximo Gorki, estreado sexta-feira última no TBC, com o qual o brilhante diretor de Andorra e Pequenos Burgueses retorna aos palcos brasileiros depois de passar vários meses vendo e estudando o melhor teatro europeu. Os Inimigos atinge tal nível de qualidade, de perfeição, abre com segurança novos campos, que mesmo se não tivermos mais nenhuma estréia de qualidade este ano em São Paulo, é espetáculo mais que suficiente para garantir ao teatro paulista, e sobretudo ao Oficina, a vanguarda do movimento teatral brasileiro e talvez sul-americano. Realmente o mais importante espetáculo que tivemos oportunidade de assistir em nosso teatro. Um diretor extremamente lúcido, consciente, ousado, que embora conversando a base do método de Stanislavski, enriqueceu seu trabalho com um insuspeitado humor e uma ironia, que quebra a emoção quando esta promete se avolumar, emprestando ao público uma lucidez e olhos imparciais para um julgamento da realidade apresentada no espetáculo e suas conotações com a nossa realidade. Gorki, em Os Inimigos, nos dá um painel da situação na Rússia no início do século, quando a burguesia se esfacelava atônita frente aos movimentos populares. Gorki pinta com perfeição e profundidade os caracteres dessa burguesia, mas esquematiza monoliticamente a classe proletária. Mas a pefeição com que nos dá os caracteres da primeira suprem a esquematização da segunda. Flávio Império, nosso melhor cenógrafo, criou cenários e figurinos excelentes. Os primeiros ampliando o palco como um painel onde a Rússia do início do século se faz presente como um todo confuso, contraditório. Fugiu da cena ambiental e ampliou, em termos plásticos, o microcosmo onde o drama do fechamento de uma fábrica eclode, para o macrocosmo de uma Rússia em crise. O elenco é dos melhores já reunidos em nosso teatro. Homogêneo, como todo elenco dirigido por José Celso, e consciente. Mas entre os intérpretes vale a pena destacar Célia Helena, Mauro mendonça, Etty Frazer, Eugênio Kusnet, Lineu Dias, Edney Giovanazzi, Ítala Nandi e Jairo Arco e Flecha. Espetáculo complexo e importante, Os Inimigos voltará a ser comentado nesta coluna. Por enquanto fica nossa indicação e insistência para que vejam o que de melhor se fez no teatro brasileiro.

    MORACY DO VAL

    OS INIMIGOS
    (1966)