OS INIMIGOS
(1966)

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  • REPERCUSSÃO (5/6)
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    Sábato Magaldi
    O Estado de S. Paulo
    sem data

    Acervo Flávio Império

    © Sábato Magaldi

    Os Inimigos voltam ao Oficina

    Os Inimigos pode ser considerada uma peça de transição entre o teatro de Tchecov e o de Brecht. Pequenos Burgueses guardava em demasia o clima tchecoviano, onde era introduzido o operário Nil, figura de otimismo num meio em decomposição. Os acontecimentos que sacudiram a Rússia, em 1905, levaram Gorki a dar maior relevo ao proletariado, e Nil se desdobrou em várias personagens, que, embora conservadas na maioria das cenas como pano de fundo, enquanto no primeiro plano se espelha a decadência da burguesia industrial, contribuem decisivamente para formar um painel histórico.

    Na análise das relações humanas vistas sob perspectiva social é que já se vislumbra o precursor de Brecht. Mas Gorki, filiado ao realismo, sente-se mais à vontade no terreno da psicologia, e por isso os burgueses são caracterizados em traços incisivos e penetrantes, ao passo que os operários ainda permanecem um pouco ingênuos.

    No álbum da família burguesa estão lado a lado os mais diversos representantes de sua maneira de encarar a vida, desde o liberal humanista ao francamente reacionário, da mulher adultera e insensível à jovem que não se conforma com a hipocrisia dos parentes e exprime a revolta e a sede de justiça da mocidade.

    O primeiro grande mérito da encenação do elenco do oficina, estreada sábado, no TBC, foi esclarecer todos os conflitos, narrando-os com inteligência para o espectador. Ao adotar o “distanciamente” anti-realista, o diretor José Celso Martinez Corrêa afastou-se de Stanislavski, para aproximar-se de Brecht. O espetáculo, enriquecido de textos históricos e de painéis que jogam com o espaço interpretativo, atinge admirável poder de explicitação e de antiilusionismo. Com a brilhante colaboraçnao do cenógrafo Flávio Império, José Celso realizou talvez a montagem mais lúcida e cuidada a que assistimos nos nossos palcos.

    Todos os atores, no sábado, não mostravam o mesmo acabamento estilístico (a estréia oficial está marcada para o dia 28). Seria cegueira, entretanto, não observar o bom nível interpretativo alcançado por Mauro Mendonça, Jairo Arco e Flexa, Lineu Dias, Beatriz de Toledo Segall, Etty Fraser e Ítala Nandi, assinalando-se a excelente criação humana de Célia Helena; Eugênio Kusnet, num sólido tipo de general, ainda prejudicado pela dicção; o progresso evidente de Ednei Giovenazzi, Líbero Rípoli Filho, Abrahão Farc e Francisco Martins; e as silhuetas corretas de Paulo Villaça, Silvio Rocha, Rolando Boldrin e outros.

    Para alguns, Os Inimigos se impõe pelo proselitismo politico. para os bem intencionados do poder, o espetáculo vale como uma oportuna advertência.

    SÁBATO MAGALDI

    OS INIMIGOS
    (1966)