OS INIMIGOS
(1966)

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  • REPERCUSSÃO (1/6)
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    Van Jafa
    Correio da Manhã
    01 de maio de 1966

    Acervo Flávio Império

    © Van Jafa

    Lançamento: Os Inimigos
    (Hoje no Teatro Municipal)

    O Teatro Oficina de São Paulo mais uma vez marca presença no eixo Rio-São Paulo trazendo sua última produção para a platéia carioca como já havia procedido com Todo Anjo é Terrível (no mesmo Teatro Municipal) e Os Pequenos Burgueses (no Teatro Maison de France).

    Máximo Gorki escreveu Os Inimigos em 1906 quando nos Estados Unidos, na mesma época que escreveu seu famoso romance A Mie que anos depois Brecht dramatizou. Surgiu impresso na Rússia em 1906 apesar de só vir a ser encenado em 1933 no Teatro Dramático Estatal de Leningrado.

    Trata-se de um texto importante como Os Pequenos Burgueses e Ralé e mesmo universalmente válido e aceito, entre nós sofreu pressões antes de poder ser encenado, apesar de depois de muitas demarches as Censuras (a Federal e a Estadual) acabaram por liberar o texto e depois o consentimento para a montagem de Os Inimigos.

    O testemunho de um dos responsáveis pelo grupo do Teatro Oficina de São Paulo nos revelou toda a odisséia passada e como foi concebido o espetáculo: “o espetáculo de Os Inimigos foi concebido como uma crônica histórica para estabelecer as diferenças e aproximações entre a primeira revolução russa de 1903 e os recentes acontecimentos da história do Brasil.”

    “O espetáculo por constituir-se numa grande montagem com a participação de um elenco numeroso, fará uma curta temporada de somente 10 dias. Mesmo em São Paulo, o critério de um teatro grande e uma curta temporada foi adotado. Assim, em vez de utilizar seu teatro, o Oficina realizou o espetáculo no Teatro Brasileiro de Comédia, onde a peça permaneceu um sucesso absoluto, por uma temporada de 4 meses.

    “A peça foi escolhida pelo Teatro Oficina em virtude do seu incrível interesse para o público brasileiro, pois as relações com nossa realidade ainda  são maiores do que em Os Pequenos Burgueses, apresentado o ano passado no Rio. A montagem foi uma vitória aliás do teatro brasileiro em geral, na sua luta pela liberdade de expressão."

    “A peça doi proibida inicialmente, quando foi apresentada pela primeira vez à Censura. O Serviço Federal de SegurançaPública desaconselhava a montagem e a Censura Estadual proibiu a apresentação da peça no Estado de São Paulo. Levantou-se um movimento pro-liberação de Os Inimigos."

    “Alias, outras peças na época haviam sido proibidas, mas a obra de Gorki tornou-se a bandeira do movimento pelo seu profundo significado cultural. O movimento culminou com uma entrevista da Classe Teatral Brasileira na ABI e com envio de telegramas ao presidente da República à ONU.

    “Finalmente, após o Ato Institucional n. 3 a peça foi liberada como texto. O espetáculo, entretanto, estava sujetio à Censura. A peça foi vista inicialmente pelo dr. Tinoco Barreto, Juiz da Justiça Militar, que emitiu um parecer extremamente favorável à peça, não só dando seu parecer favorável à encenação, bem como frisando que a mesma era mesmo aconselhável, em virtude do seu alto sentido de advertência, para o povo brasileiro.”

    “Finalmente a peça obteve censura definita e definitiva liberação por parte do Departamento Federal de Segurança Pública e estreou em São Paulo com acolhida excepcional de público e crítica.

    “A peça, realmente, não tem caráter exortativo, panfletário ou subversivo, mas sim de uma crônica histórica destinada a induzir o espectador à refkexão sobre a situação atual do Brasil, através dos dados comparativos que ela estabelece.

    “Foram realizados inúmeros debates e agora o Teatro Oficina está ansioso para enfrentar a platéia mais politizada do Brasil para com a mesma estabelecer seu debate.

    “Entretanto a peça não se prende somente ao sentido político. Aliás, o mesmo é menifestado como em Os Pequenos Burgueses, através de personagens ricos e complexos humanamente, como somente Gorki sabe criar. Há o dobro de personagens de Os Pequenos Burgueses, sem que por isso cada um deles perca em individualidade e força.

    “Através de uma linguagem moderna de espetáculo com o uso de slides, painéis, música etc., o espetáculo se enriquece de dados, procurando atingir uma visão totalizante do período em que a peça se passa.

    A direção é de José Celso Martinez Corrêa. Os cenários e figurinos de Flávio Império, criando pela primeira vez na cenografia brasileira um cenário com dados da pop art tratados segundo uma visão brechtiana.

    Os Inimigos como todas as obras de Gorki deste período tem um sentido e um sentimento proféticos.

    Tudo sobre a estréia de hoje

    O AUTOR – Trata-se de Máximo Gorki um dos mais ilustres romancistas e dramaturgos russos. Máximo Gorki é o psudônimo de Aleksei Peshkov. Viveu intensamente, foi autodidata, viveu muito tempo longe da Rússia, mas no continente eutorpeu, além de um período nos Estados Unidos, tendo falecido no nossos dias em 1938 depois de ter sido reconhecido universalmente importante e grande. Romancista (A Mãe, Os Vagabundos, O Espião, Os Degenerados, Os Ex-Homens, todos traduzidos), dramaturgo (Os Pequenos Burgueses, Ralé, Os Inimigos, Vassa Geleznova, entre outras) memoralista, além de jornalista militante. Tanto no Brasil como em Portugal grande parte de sua obra está versionada.

    O TRADUTOR – São doåis, Fernando Peixoto e José Celso Martinez Corrêa que já haviam trabalhado de colaboração no texto de Os Pequenos Burgueses. Martinez Corrêa que é diretor e, também, dramaturgo tem uma tradução de Pena que ela seja uma P... de John Ford e Peixoto que é ator e assistente de diretor tem Antígona de Brecht. São parceiros de outras anunciadas traduções de Galileu Galilei, de Brecht, Romance de Lobos, de Valle-Incián.

    O DIRETOR – O premiado José Celso Martinez Corrêa é um dos fundadores do Teatro Oficina, operando desde sua fase amadora até sua grande ascensão profissional com A Vida Impressa em Dólar, de Odette, que Martinez Corrêa dirigiu com sucesso e propriedade, seguindo Todo Anjo é Terrível, de Wolfe-Fings. Os Pequenos Burgueses que lhe valeu vários prêmios, Toda Donzela tem um Paiq ue é uma Fera e Andorra.

    O CENÓGRAFO E O FIGURINISTA – Mais uma vez o cenórgrafo e figurinista Flávio Império atua nas duas áreas. Suas cenografias mais conhecidas são Um Bonde Chamado Desejo, de Williams, Todo Anjo é Terrível, A Ópera dos Três Tostões, Filho do Cão, entre outras. É hoje um dos mais importantes cenógrafos paulistas, além de pintor, presentemente expondo na nossa Galeria Goeldi.

    AS ESTRÉIAS – Hoje às 21 horas o Teatro Oficina de São Paulo apresenta a produção de Joe Kantor Os Inimigos, de Máximo Gorki em tradução de Fernando peixoto e José Celso Martinez Corrêa, com direção de José Celso Martinez Corrêa, cenografia e figurinos de Flávio Império, música de Chico Buarque de Holanda com Francisco Martins, Libero Ripoli Filho, Ednei Giovenazzi, Eugênio Kusnet, Rolando Boldrin, Paulo César, Etty Fraser, Mauro Mendonça, Lineu Dias, Célia Helena, Ítala Nandi, Beatriz de Todelo Segall, Paulo Villaça, Rogério Márcio, Otávio Augusto, Heitor O’Dwyer, Abrahão Farc, Marques de Toledo, Flávio Porto, Antônio Ferreira, José Jumberto Biaglioni e outros. A récita para a Crítica Dramática será na próxima terça-feira, 3 de maio.

    VAN JAFA

    OS INIMIGOS
    (1966)