LABIRINTO: BALANÇO DA VIDA
(1973)

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    Mariângela Alves de Lima
    Veja
    11 de abril de 1973

    © Mariângela Alves de Lima

    Aventura Poética
    Labirinto: Balanço da Vida.
    Roteiro poético dirigido por Flávio Império; Imagens fotográficas de Djalma Batista com Walmor Chagas e Heart Smile.

    Foram-se os tempos dos saraus literários, onde cada convidado sabia de cor pelo menos meia dúzia de versos.  Hoje  é cada vez mais difícil fazer o poema chegar até o leitor ou ao ouvinte. As razões são complexas e extensas: o tipo de vida de um grande centro urbano, com outras formas de lazer e outros meios de comunicação. Para “tentar retirar a poesia do exílio” Walmor Chagas encenou Labirinto: Balanço da Vida no Teatro Cacilda Becker, de São Paulo. Quase todos os poetas presentes são marcos da literatura universal e nacional: Garcia Lorca, Mário de Andrade, Fernando Pessoa, André Gide. Walmor mostra ainda que, sem a música, Caetano Veloso e Chico Buarque de Hollanda poderiam perfeitamente estar incluídos em antologia da literatura brasileira. Há um fio entrelaçando todos esses poetas: a experiência de vida do próprio ator. Walmor escolheu os textos que expressam um estado de espírito ou uma situação vivida por ele.

    Fazendo um balanço de sua vida, Walmor fala também da sua natureza de artista, que considera como um vínculo entre ele e todos os poetas que o atraem. Como o ator se coloca no palco, o poeta expõe sua alma aos olhos ávidos ou indiferentes dos leitores. Há neles uma parcela de loucura que os leva a uma arriscada e dolorosa exposição de si mesmos. Todos esses aspectos estão contidos nos poemas selecionados para o espetáculo.

    Labirinto é uma antologia cuidadosamente elaborada. Os textos, porém, apesar das imagens poderosas, são de fácil apreensão, transmitidos por uma interpretação clara e direta.

    O espetáculo proporciona o prazer de revisar poemas através da interpretação sensível e inteligente de Walmor. Mesmo textos muito conhecidos, como “E Agora, José?” de Carlos Drummond de Andrade, adquirem um ângulo diferente se observados através de uma consciência compassiva do desamparo humano.

    Como encadernação, o espetáculo concebido por Flávio Império transformou  o roteiro poético em um acontecimento visual. O ator é o centro perpendicular do espetáculo (as rápidas intervenções da atriz Heart Smile são tão inoportunas quanto inexplicáveis). Os slides belíssimo de Djalma Batista, projetados na parede côncava do palco, formam símbolos visuais para as palavras.

    Dentro desse espaço aberto, as palavras são circundadas apenas pela luz e pelos efeitos sonoros. Não há formas sólidas em cena para impedir seu caminho. Chegam até o espectador como sugestões soltas no espaço. No caso, o espaço amplo é um objetivo do espetáculo, que Walmor coloca através de um texto de André Gide: “Esquece de mim (diz o ator). Olha apenas para ti. Depois esquece de ti e olha para tudo o mais”.

    MARIÂNGELA ALVES DE LIMA

    LABIRINTO: BALANÇO DA VIDA
    (1973)