Labirinto, balanço da vida, concebido em 1973, é um dos raros exemplos de espetáculos em que Flávio Império responsabiliza-se pelo roteiro e direção, além da cenografia e figurinos.
A partir do desejo de Walmor Chagas de construir um roteiro ancorado na poesia, contando com uma primeira versão escrita por Paulo Hecker Filho e com a colaboração de Maria Thereza Vargas, Flávio propôs uma forma de criação que envolvia artistas de diversas áreas atuando em conjunto e guiando-se pela ação do acaso. Novamente rompendo os limites do palco e trabalhando com a projeção de imagens sobre o cenário, Flávio trabalha a forma do espetáculo sem preocupar-se com uma narrativa convencional, mas sim explorando a reunião das matérias visuais, textuais e sonoras como elementos de provocação sensorial.
Poesia, imagem e som fundidas em uma experiência que mobiliza os sentidos de forma rara. A palavra, em sua essência, reúne-se à música ao vivo e a um espaço composto plasticamente e de forma dinâmica. “(Experiência) Inédita porque a sucessão de quase apenas poemas não se resume a um recital de poesia e a presença de instrumentistas não se limita a um acompanhamento musical.
Sábato Magaldi, Jornal da tarde abril de 1973
Autores como Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Rimbaud, Chico Buarque de Hollanda, Caetano Velloso, Orestes Barbosa e Paulo Hecker Filho fazem parte da colagem de textos/poemas, enquanto os versos do poeta anônimo do século XVI, que Flávio já havia utilizado em uma gravura, estrutura as cenas:
Tens algo da terra
Tens algo da água
Tens algo dos anjos
Tens algo do fogo
Tens a vontade e ela é livre
Acentuando o dado de intimidade dominante no espetáculo, a cenografia de Flávio Império, ultrapassa os limites do palco e redesenha a relação ator/público. Definindo o espaço, uma grande estrela brilhante-reflexiva, que ativa imagens virtuais do corpo em cena, soma-se a projeções documentais/abstratas das fotografias de Djalma Limongi Batista. Vale ressaltar a presença, neste trabalho, de signos e traços que vemos em composições plásticas do artista, contemporâneas a essa montagem.
Produzido em meio ao período mais duro da ditadura militar e à paralela vivência de pesquisas introspectivas, de caráter coletivo e experimental, levadas a cabo por parte da comunidade artística do país o espetáculo estreou no dia 29 de março de 1973, no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo.
ASSISTENTE DE DIREÇÃO MARIA THEREZA VARGAS CENOTÉCNICA ARQUIMEDES ...