LIBERTAS QUAE SERA TAMEM | X |
Com a dança, me parece, que Flávio teve um contato diferente com o movimento. Na dança, o que importa é realmente o movimento. É preciso libertar o caminho, libertar a cena. Nos shows de Maria Bethania ele já tinha vivido a experiência de deixar o espaço vazio. Porém, espaço vazio em show não é tão vazio assim, ele está sempre entulhado pelos equipamentos, instrumentos, a banda de músicos ...
No espetáculo LIBERTAS, do qual assinei roteiro, direção e iluminação, os elementos tinham que ser colocados e logo retirados de cena, com a maior agilidade. Não podia ter nada construído. No meu modo de ver, a idéia da dança fez com que Flávio limpasse o espaço da cena e também o seu próprio processo de criação e realização desse espaço. Aquele método que o levava primeiro a conceber um cenário simbólico e construído, a entulhar esse cenário e por fim velar tudo isso, não dá para ser aplicado na dança. Para mim a dança o fez jogar tudo fora, o fez deixar o palco livre.
Pelo que me dizia, o Flávio tinha a consciência, de que esses trabalhos em dança acabaram por levá-lo para uma saída na cenografia que, antes, ele não via. Livrar, livrar livrar. Com os tecidos, os véus e as transparências sobrepostas seu trabalho ganha outra plasticidade.
IACOV HILLEL