UM BONDE CHAMADO DESEJO
(1962)

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    Moracy do Val
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    19 de abril de 1962

    Acervo Flávio Império

    © Moracy do Val

    UM BONDE CHAMADO DESEJO

    Antes que se tente levar alguma suspeição do colunista com relação ao espetáculo do Teatro Oficina, companhia da qual fomos fundador e diretor, seremos nós os primeiros a afirmar os anteriores vínculos que nos uniam àquela equipe e a ressaltar que os mesmos foram, de há muito quebrados, não mantendo o colunista sequer relações cordiais com os membros do Teatro. Isto posto, não nos falta liberdade para uma crítica objetiva de Um Bonde Chamado Desejo, ontem apresentado para a crítica especializada. A obra-prima de Tennessee Williams, que em seu lançamento em 1948, veio marcar um dos pontos altos do moderno teatro, teve na direção inteligente e cuidada de Augusto Boal, uma interpretação precisa, resultando num dos melhores espetáculos do momento em nossos palcos. Streetcar, obra das mais representativas do teatro americano, estreada em 1948, resultou de um esforço de Williams para transcender o realismo, que se iniciava na Europa, com uma reação romântica e simbolista. A ambiguidade realista-simbólica e prenhe de poesia, característica da forte obra de Williams está, mais do que nunca, presente nessa narração do drama de Blanche Dubois, da sua decadência de aristocrata proprietária sulina ao papel de mulheres réles, e de seu desejo incontido de proteção, de comunicação verbal-sexual. É uma das mais complexas personagens do teatro moderno. Em nossa coluna de amanhã continuaremos comentando o espetáculo de ontem do Oficina, analisando as interpretações. Mas, desde já, fica nossa opinião: é um dos melhores espetáculos apresentados em São Paulo nos últimos tempos.

    MORACY DO VAL

    UM BONDE CHAMADO DESEJO
    (1962)