Flávio foi o primeiro cenógrafo com quem trabalhei. Ele já trazia o conceito da inexistência de fronteiras entre o teatro, a arquitetura e o urbanismo. E assim, já revolucionara totalmente a idéia de espaço cênico.
José Celso Martinez Correa,
Depoimento na exposição REVER ESPAÇOS, Centro Cultural São Paulo (CCSP), 1983.
Um bonde chamado desejo inaugura a parceria de José Celso Martinez Correa e Flávio Império, respectivamente como diretor e cenógrafo/figurinista, parceria esta responsável pela montagem de alguns dos mais importantes e inovadores espetáculos da cena teatral brasileria dos anos 1960.
Pela primeira vez diante do espaço oferecido pelo Teatro Oficina e seu "palco sanduiche", obra do arquiteto Joaquim Guedes, Flávio Império tirou partido das características únicas do edifício: explorou a verticalidade, garantindo a visualidade das cenas através da leve estrutura adotada, e levou a platéia para dentro do apartamento da irmã de Blanche Dubois composto em mínimos detalhes.
Através da estrutura de tubos metálicos, que proporciona a transparência necessária à visualidade das duas platéias, construiu dois planos de ação interligados por uma escada caracol. Com cortinados e diferentes alturas de piso define as divisões internas e externas de uma arquitetura sugerida, enquanto o mobiliário e os objetos de cena, assim como o figurino, dão o tom da realidade.
(…) a síntese entre o aconchego que a arena, experimentada no Teatro de Arena, propiciava e o uso do espaço cenográfico, isto é, da mensagem cenográfica, trazida pelo TBC (Teatro Brasileiro de Comédia)
José Celso Martinez Corrêa , depoimento
Depoimento na exposição REVER ESPAÇOS, Centro Cultural São Paulo (CCSP), 1983.
Blanche Dubois refugia-se no exíguo apartamento da irmã em Nova Orleans, após ter sido expulsa do colégio onde dava aulas em terras sulinas norte americanas. Os gestos estudados e a maneira de falar de Blanche lembram a aristocracia típica do Sul dos Estados Unidos e acrescentam à sua figura, um leve ar de coisa fantástica, em total desacordo com o ambiente onde hoje se encontra.
Enquanto Stella, a irmã, salvou-se atirando-se sem barreiras no amor do selvagem polaco Kowalski. Blanche foi a que permaneceu administrando as dívidas e as mortes dos que lhe eram mais próximos. O encontro com o cunhado Stanley Kowalski provocará sua derrocada. Bruto, física e espiritualmente, não descansará enquanto não destruir essa criatura capaz de abalar a complexa harmonia reinante entre ele, a mulher e os companheiros de poquer. Dentre eles Mitch, sensível como um cavalheiro sulista, seria a última esperança de salvação de Blanche, não fosse a obsessiva idéia de Stanley em querer desvendar e proclamar o outro lado da frágil personagem.
Na verdade, a tragédia econômica e moral da família, a solidão, após um desastrado casamento, levaram-na à devassidão. Uma misteriosa atração-repulsa, no entanto, paira sobre os dois. A sós com Blanche, Stanley a violenta, precipitando-a na total loucura.
A dramaturgia do americano Tenesse Williams (1911-1983) apresenta-se como um vasto painel de dilacerados, irremediavelmente vencidos pela confusão de valores de um universo brutalizado. Seres sensíveis, sonhadores, inadaptados movem-se, porém, numa atmosfera poética, muito bem expressa numa das falas de Blanche: O lado mágico é o que eu mais desejo … é isso que tento oferecer às pessoas.
DIREÇÃO DE CENA MANOEL RIBEIRO SONOPLASTIA ALBERTO NUZZO PRODUÇÃO ...