OS INIMIGOS
(1966)

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  • REPERCUSSÃO (4/6)
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    Germana de Lamaro
    Correio da manhã
    29 de abril

    Acervo Flávio Império

    © Germana de Lamaro

    Os Inimigos em ritmo de música, texto, tiro e luzes

    Depois de ter conquistado nada menos de 14 prêmios com Pequenos Burgueses, o Teatro Oficina de São Paulo volta apresetando a sua segunda montagem, com Os Inimigos. O grupo, bastante jovem, não parou neste último ano o seu trabalho de pesquisa. Embora a escolha recaia sobre o mesmo autor – Máximo Gorki – há uma grande distância entre a concepção de ambos os espetáculos. A direção rompe a montagem naturalista, de essência psicológica, aquela atmosfera particular da casa do Bessemenovs, vinho-cnzenta, onde uma família se desintegra entre móveis velhos, e inicia uma nova etapa – a crônica histórica. As paredes desaparecem para das lugar ao retrato de uma época, que rodeia uma família, um tanto mais opulenta, mas nem por isso, mais dotada de virtudes.

    Flávio Império, cenógrafo e figurinista, tem em seu trabalho uma participação bem mais atuante; a situação política, social e religiosa da Rússia de 1906 é tema de seus painéis, que deslizam ao fundo de um conflito íntimo. Francisco Buarque de Holanda compôs as músicas, que sublinham cenas um tanto mais importantes na concepção do diretor. Os objetos de cena são contraditórios, brigam e coincidem-se entre eles.

    Os personagens comportam-se de um ponto de vista menos emotivo, e mais cultural, isto é, com a visão dramática de sua posição no mundo – na época. O trabalho psicológico de forma alguam foi excluído, foi, digamos assim, enriquecido com outros fatores, que compõem um ser dentro de uma sociedade. Entre os trabalhos, Célia Helena volta uma outra Tatiana, mais lúcida, não menos trágica, Eugenio Kusnet, prêmio Molière de interpretação por Bessemenov em Pequenos Burgueses, veste uma farda de general e usa longos bigodes. Etty Frazer, a boa mãe de uma triste família no ano passado, sofistica-se num belo personagem, que oscila entre o humano e o fantástico. Perto de 22 atores, compõem o espetáculo que é a Rússia do princípio do século – suas lutas e suas contradições.

    A burguesia no poder – o prenúncio de sua queda. José Celso Martinez Corrêa, depois de um ano na Europa em bolsa de estudos, procura com esta nova experiência – que já o prepara para um trabalho épico, como Galileu Galilei, de Bertolt Brecht – a comunicação viva entre o público e o teatro. A volta da linguagem aberta entre ambas as partes. Uma participação, embora mais lúcida, não menos próxima, das pessoas presentes cim o teatro – ou melhor – com a humanidade e sua própria época.

    GERMANA DE LAMARO

    OS INIMIGOS
    (1966)