PANO DE BOCA | X |
Outro momento que eu peguei de transição, que é interessante, foi o espaço mudando de dono, mudando de sentido, mudando de lugar. Foi o Teatro Treze de Maio, usado na montagem de Pano de boca, seu último uso como casa de espetáculo. Foi um episódio muito interessante. O teatro estava tão pra lá de Marrakesh que eu precisei benzer, botar arruda. Estava numa barra tão pesada que não dava pra trabalhar, precisava primeiro limpar.
E eu contei com a colaboração espontânea de um pai-de-santo, de uma casa de Umbanda que tinha lá perto. Ele se vestiu inteiro de cor-de-rosa no dia que ele foi me ajudar a fazer a limpeza e foi assistir à estréia se sentindo uma espécie de agente dentro daquele espaço.
Pano de boca era só um espaço, uma espécie de arena que aflorava da terra. Todos os elementos em torno do espectador e do ator foram recolhidos em escolas de samba e nos depósitos de teatro a que a gente conseguiu ter acesso. A organização desse espaço seguia alguns critérios de leitura da peça. Mas a grande parte do material que entrou foi, não no sentido decorativo e sim no sentido ambiental, pra que a situação colocada - de um velho teatro reaberto, depois de muito tempo, onde iria-se começar um trabalho em cima de escombros - fosse mais uma verdade do que uma ficção.
Então, quando você entrava no barracão, sentia-se em um velho depósito parado há muito tempo, com um monte de coisa velha, onde se tentava fazer uma nova produção. Era só uma espécie de documento.
FLÁVIO IMPÉRIO