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PANO DE BOCA (1976)

É como doido que entro pela vida
que tantas vezes não tem porta
e como doido compreendo o que
é perigoso compreender

Clarice Lispector,

texto publicado no programa do espetáculo

A malha tensionada, que Flávio Império experimentava em obras plásticas nessa mesma época, e que entrara em cena em pequeno painel na peça Reveillon, torna-se a matéria dominante neste cenário onde a área reservada ao público e à cena se misturam de tal forma, que os limites visuais são pouco reconhecíveis.

Material que se tornaria quase uma marca do artista, a malha, dessa vez trabalhada como membrana envelhecida - manchada, desgastada, rasgada - avançou sobre o palco e a platéia, envolvendo o espaço como se fora as camadas da mente tortuosa do diretor imobilizado. Objetos de toda ordem, recolhidos em depósitos de teatro e centros beneficientes de móveis usados, organizaram o espaço da ação ao mesmo tempo que provocavam a sensação de plena desordem ao olhar do espectador. Sobre o pano, jogos de luz e sombra traziam à cena a figura ausente do diretor aguardado pelo grupo.

O “palco” será simplesmente um grande praticável circular (mandala) sobre o chão do galpão. Não é palco (único lugar da ação), mas um dos “lugares da ação”.

Flávio Império, programa do espetáculo, 1976

A dinâmica dos laboratórios experiênciais/vivenciais de atuação e criação coletiva, nos moldes levados a cabo por diversos grupos teatrais, brasileiros e internacionais durante as décadas de 1960 e 1970, foi o tema do primeiro texto teatral escrito e encenado por Fauzi Arap.

Trata-se de uma profunda reflexão sobre o mistério teatral, em uma época certamente de encruzilhadas para quem estava envolvido em sua produção. De um lado a censura e a repressão militar, de outro a experimentação sensorial e psicológica.

A ação da peça se passa em três planos intercalados no tempo e no espaço. No plano da “ficção”, um autor desmotivado é desafiado por suas criaturas a escrever. Pagão e Segundo são personagens em ação em pleno processo de criação. Num segundo plano, que não se sabe se “ficção” ou “realidade”, uma atriz dialoga com uma figura inexistente, em busca de compreensão dos fatos vividos. E finalmente, no plano “da realidade”, um conjunto de atores se reúne para tentar retomar suas atividades na antiga sede, ora um teatro abandonado. Esse encontro coloca em pauta, de maneira profunda, a discussão sobre as experiências por eles compartilhadas anos antes e forçosamente interrompidas: as dinâmicas de grupo comandadas por seu diretor e uma trupe internacional, o uso de diversos tipos de drogas e a tentativa de viver comunitariamente, como foi de costume na época.

Esta montagem tomou lugar no Teatro 13 de maio, em São Paulo, com direção do próprio autor, cenários e figurinos de Flávio Império.

Estréia
09 de abril de 1976
Teatro 13 de Maio
São Paulo - SP

Autoria
Fauzi Arap

Direção
Fauzi Arap

Cenografia
Flávio Império

Figurino
Flávio Império
Cecilia Cerroti

Programação Audiovisual
Ricardo Gouveia e equipe

Fotografias para Projeções
Walter Vitillo

Iluminação
Fauzi Arap
GcB

Produção
Benê Mendes

TRILHA SONORA FAUZI ARAP RICARDO GOUVEIA ASSISTENTE DE DIREÇÃO CLEMENTE ...

DEPOIMENTOS

OUTRO MOMENTO QUE EU PEGUEI DE TRANSIÇÃO, QUE É INTERESSANTE, FOI O ESPAÇO ...

FLÁVIO IMPÉRIO

HISTÓRIA – OS INIMIGOS (DENTRO OU FORA) “FAUZI REALIZA UM PERIGOSO DESLOCAMENTO ...

FAUZI ARAP

A MALHA, EU NÃO SEI ONDE FLÁVIO ARRUMOU. JÁ TINHA LEVADO UNS PEDAÇOS PARA ...

LOIRA CERROTI
CENÁRIO
ITINERÂNCIA
EM CENA