OTHELLO
(1982)

X
  • DEPOIMENTOS (1/3)
  •  
    X
     
    Trecho entrevista de Flávio Império a Maria Thereza Vargas e Mariângela Alves de Lima
    Exposição REVER ESPAÇOS
    Centro Cultural São Paulo, 1983
    Acervo Flávio Império; Prefeitura de São Paulo/ Secretaria Municipal de Cultura/ Centro Cultural São Paulo

    © Flávio Império

    Quando Juca de Oliveira me chamou para fazer Othello eu resisti, talvez por preconceito aos clássicos. Essa resistência demorou uns quatro meses para ser vencida. Até que um dia eu tive um “insight”, baseado em tudo de Othello, que eu já tinha pensado até aquele dia (mas eu não peguei em peça nenhuma pra ler) que resolvia, num átimo meu departamento.

    Então telefonei pro Juca e falei: “Já fiz”. Indiquei o Murilo Sola para o figurino e o Iacov Hillel para fazer a luz, pois a gente estava fazendo espetáculos de dança juntos, no Balé da Cidade de São Paulo, e estávamos nos entendendo muito bem numa certa linguagem. O cenário de Othello como imaginado cabia numa “combi” e poderia viajar o Brasil inteiro, como Juca pedira. Ele topou e eu fiquei com hepatite no dia seguinte e coordenei da cama o trabalho de toda a equipe – Murilo, Iacov e Loira.

    A Loira fazia produção executiva da cenografia. Trabalhamos a partir de cinco esquemas gráficos - as únicas coisas que foram desenhadas para o projeto - que tratavam-se de anotações de minha primeira intuição depois do derradeiro encontro e discussão com os atores. 

    Foi uma felicidade fazer esse trabalho. A intuição funcionou. Existia uma adequação bem razoável para uma peça que não tinha diretor, ou melhor, que dez diretores - os oito atores, eu e o Iacov. Como os cenários eram, no fim das contas, uma coisa sintética e simples, como um arame no qual todo mundo se equilibra, todos entraram no jogo e funcionou.

    Percebi que o que eu tinha medo e não aceitava fazer era um Shakespeare que se coubesse numa perua e que se podia viajar pelo Brasil. Imagine se eu assumiria esse risco antes de inventar, imagine se você pode garantir que consegue fazer! Eu não! Eu achava responsabilidade demais.

    FLÁVIO IMPÉRIO

    OTHELLO
    (1982)