ABSURDOS, OS DOZE TRABALHOS DE FLÉRSULES
(1984)

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  • REPERCUSSÃO (1/5)
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    Marília Pacheco Fiorillo
    Istoé
    09 de maio de 1984

    Acervo Flávio Império

    © Marília Pacheco Fiorillo

    Com o Corpo em dia
    Pique de companhia e humor afiado
    ABSURDOS

    - Direção de Júlia Ziviani, Flávio Império e Suzana Yamauchi. Coreografia de Suzana Yamauchi. Com o Balé da Cidade. Teatro Municipal, São Paulo

    O subtítulo destes caprichados Absurdos é Os Doze Trabalhos de Flérsules - um certo Hércules de bastidores, que só mesmo com sua ajuda um balé inteiro poderia ser montado em um mês e meio. Flérsules se saiu bem - é um gozador de primeira. Porque os doze divertissements que compõem o novo trabalho do antigo Corpo de Baile são sobretudo bem-humorados e inteligentes. Sem maiores pretensões, e nenhum preconceito, misturam dinâmicas diferentes, compositores variados e temas assimétricos. Em Olipondas, porque as Olimpíadas estão aí, o som de Meredith Monk e Keith Jarret servem para parodiar o crawl, remo ou basquete, naqueles maiôs antigos. Em Ovos, três atribuladas galinhas procuram seus pertences equilibradas em sapatilhas de ponta. Em Tarântula, uma série de pequenos assassinatos com paixão medida, sob o compasso de Erik Satie. Há o rápido e nervoso passo das Abelhas e o ritmo exorbitantemente lento de astronautas atrás de um meteorito distraído, em Planetóides, mais algumas lembranças de discoteca em Secretária Eletrônica. Mas é em Nada que está a chave do espetáculo: a técnica dos contrastes, no caso Shumann ao fundo enquanto Gil Gomes irradia seus absurdos para as faxineiras do teatro. Aproveitando ao máximo os movimentos de grupo, recuperando um fôlego de companhia, a coreografia de Suzana Yamauchi revela mais que um jovem talento - indica a melhor saída para quem não se contenta com remontagens líquidas e certas. Absurdos, definitivamente, tem uma cabeça anos 80.

    MARÍLIA PACHECO FIORILLO

    ABSURDOS, OS DOZE TRABALHOS DE FLÉRSULES
    (1984)