ABSURDOS, OS DOZE TRABALHOS DE FLÉRSULES
(1984)

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  • REPERCUSSÃO (4/5)
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    Fausto Fuser
    Revista Visão
    14 de maio de 1984

    Acervo Flávio Império

    © Fausto Fuser

    LINGUAGENS NOVAS

    Absurdos ou Os doze trabalhos de FIérsules — Balé da Cidade de São Paulo; coreografia de Suzana Yamauchi; coordenação geral de Flávio Império, Suzana Yamauchi, Júlia Ziviani; roteiro de Flávio Império e Suzana Yamauchi; cenografia de Flávio Império e Francisco Giaccheri (cenário "Espadas"); Teatro Municipal, de quarta-feira a sábado, 21h00; domingo, às 10h00 e 18h00. Até dia 9.

    E o Balé da Cidade de São Paulo, depois da animadora reapresentação de Essas mulheres, surge com espetáculo novo. São doze coreografias juntadas como que ao acaso e bem merecem o título de Absurdos - busque e encontre um fio condutor lógico delas quem quiser e puder, mas não é necessário nem importante.

    Esse punhado de coreografias é dominado pelo bom numor crítico do início ao fim. Visões do nosso mundo hoje, às vezes realista, às vezes fantasia livre. Jamais o caminho fácil, a concessão ao banal. Absurdos cumpre suas propostas abertas com a dança, com a inteligência, com o bom gosto. Espetáculo dominado pelo prazer que se permite o formal, o jocoso, a crueldade real da cidade, e novamente o gaiato, a brincadeira inspirada nas revistas em quadrinhos e nos livros de arte. E no sonho. Suzana Yamauchi afirma-se em definitivo como uma das nossas melhores coreógrafas. Bailarina extraordinária, prova agora também o domínio da narrativa dançada. Sua linguagem é desenvolta, servindo-se à vontade e com competência das escolas e dos estilos. Seu parceiro na criação artística de Absurdos, co-autor do roteiro, iluminação, trilha sonora etc., é Flávio Império, que, além de cúmplice evidente (ele é reincidente) da coreógrafa, assina com seu sorriso peculiar e seu talento figurinos (com Suzana e Cecília Cerroti) e cenários (com Francisco Giaccheri) deliciosos.

    O elenco do Balé da Cidade de São Paulo apresenta-se (novamente) não só com maturidade artística e grande preparo técnico — temos, ainda, bailarinos e bailarinas dançando com satisfação contagiante. A própria fragmentação do espetáculo favorece o nivelamento (por cima) do elenco e é na alegria de dançar que se torna transparente a solicitação sensível da coreógrafa a cada elemento do grupo e ao grupo como um todo. O empreendimento, como tal, é assinado por Suzana Yamauchi, Flávio Império e Júlia Ziviani; muitas vezes é impossível saber quem fez o que, cooperação sempre desejável mas só possível em algumas felizes ocasiões Absurdos é uma delas.

    FAUSTO FUSER

    ABSURDOS, OS DOZE TRABALHOS DE FLÉRSULES
    (1984)