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OBJETOS E RELEVOS - ANOS 1960

Ao longo dos anos 1960, paralelamente à intensa atividade pictórica, arquitetônica e teatral, Flávio Império produz uma série de relevos em gesso e assemblages, em muitos casos montados sobre suportes de ferro e frequentemente trabalhados com manchas de cor. Neles, o humor se alia à crítica afiada a uma sociedade militarizada, policiada e dominada por um processo de mecanização do homem e de sua vida. Acoplando objetos retirados do cotidiano e mesmo do universo infantil – peças de engrenagens de relógios, ferramentas, soldadinhos de chumbo e armas de brinquedo – a frases em inglês e imagens icônicas como a da Estátua da Liberdade, o artista escancara a violência da invasão cultural dos Estados Unidos no Brasil e no mundo. Metonimicamente, fala da expansão política e militar do império norte-americano e faz uma referência clara à guerra do Vietnã, assim como à militarização e à mecanização do pensamento brasileiro.

Ao mesmo tempo, esses relevos, apelidados por Flávio Motta de “metamoldes”, instauram uma relação direta e física com o contexto de onde brotam, no sentido de que o artista se apropria de elementos corriqueiros do dia a dia, em muitos casos encontrados pela rua, para depois juntá-los e dar vida a uma criação extremamente pessoal. Várias pinturas do mesmo período são construídas de maneira análoga, isto é, a partir de imagens veiculadas pela mídia e, portanto, “disponíveis”, mas que são transformadas pelo uso feito pelo artista. Trata-se, cabe dizer, de um modus operandi não muito distinto do que Flávio Império utilizaria no teatro, onde demonstrou, em mais de uma ocasião, uma impressionante capacidade de chegar a uma cena conformada por potente síntese plástica a partir de objetos e materiais aparentemente insignificantes.
Finalmente, cabe ressaltar, por surpreendente, a ausência de desenhos livres datados dessa época: o traço em grafite, nanquim e aquarela parece concentrar-se exclusivamente na produção de projetos de figurino, de cenário e de arquitetura.
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