Além de sua permanente atuação como cenógrafo e figurinista (e muitas vezes artista responsável pela criação do material gráfico dos espetáculos em que participa) Flávio Império teve uma interessante produção como diretor de espetáculos.
Após a experiência junto ao grupo de teatro amador da Comunidade de Trabalho Unilabor, durante o final dos anos 1950, Flávio responsabilizou-se pela direção de três espetáculos, um a cada década.
Em 1969 dirige o grupo de estudantes do Teatro Universitário de São Paulo para a montagem de Os fuzis de dona Tereza, adaptação do texto Os fuzis da senhora Carrar, de Bertolt Brecht; em 1973, concebe o roteiro e dirige Labirinto, o balanço da vida, tendo Walmor Chagas como protagonista e em 1984, em sua terceira experiência com o Corpo de Baile do Theatro Municipal de São Paulo, realiza Absurdos, os doze trabalhos de Flérsules, em estreita colaboração com a coreógrafa Suzana Yamauchi.
Um conjunto de espetáculos de caráter bastante diverso porém marcados por uma forte e pessoal forma de encenação. Enquanto Os fuzis de dona Tereza traz à cena um texto de narrativa teatral bastante linear e didática, Labirinto foge da estrutura convencional da contação de histórias para, em perspectiva inversa, propor uma colagem literarária – a reunião de poemas e textos a que Mariangela Alves Lima chamou de “autobiografia poética de um grupo”. Já Absurdos consiste em um espetáculo de dança cujo roteiro, elaborado por Flávio Império e Suzana Yamauchi, não apresenta nenhum comprometimento temático ou narrativo a priori, tendo sido criado, segundo os depoimentos de ambos, com absoluta liberdade e a casualidade do dia a dia.
As palavras da crítica de Yan Michalski, publicada na revista/programa do VII Festival Mundial de Teatro Universitário de Nancy, na França, Theàtre e Université, n 17, poderiam ser usadas para todos os espetáculos:
“O espetáculo dirigido por Flávio Império é, do primeiro ao último minuto, como um ritual. Não um ritual primitivo, mas uma liturgia solene e elaborada, fundeada sobre um constante e trabalhado crescendo de ritmo, de densidade e de aparatos, através do qual o espectador é arrancado, pouco a pouco, de sua autoconsciência individual e levado, irresistivelmente, a um estado de comunhão místico-artístico-político com a celebração dos intérpretes. (…) Mas, com todas essas qualidades de invenção e inteligência, a direção de Os fuzis da Senhora Carrar não teria a metade da eficácia que ela tem, se não se apoiasse continuamente sobre imagens extraordinariamente inspiradas que agem poderosamente sobre os sentidos do espectador e desarmam, através de uma emoção puramente estética, suas eventuais resistências. É , sem dúvida nenhuma, um espetáculo concebido por um artista plástico extremamente sensível à dinâmica própria do teatro, e consequentemente capaz de criar uma beleza visual que sempre parte de uma noção de movimento. (…)”