A CENA MUDA (1974)

O nome que Fauzi Arap atribuiu ao espetáculo muito dizia sobre a sua forma e seu conteúdo: um show mudo de palavras faladas, mas também um clamor para a mudança do Brasil, silenciado pela ditadura militar. Já na impactante capa do disco, criada por Flávio Império, omite-se a boca de Maria Bethânia (uma alusão à censura) para se explicitar o terceiro olho (uma referência à intuição).

A Cena Muda marca a volta, em 1974, do profícuo grupo formado por Bethânia, Fauzi Arap, Flávio Império e Terra Trio. O tema central do espetáculo era a vida do artista e o sucesso. O diretor leva às últimas consequências a fragmentação e reorganização de canções de modo a criar um roteiro que se passa, do início ao fim, como um longo discurso teatral cantado. Bethânia, então, já se consolidara como “intérprete” – profissional na fronteira entre a atriz e a cantora.

Para ambientar esta personalidade multifacetada, Flávio Império projeta um tablado espelhado, uma base que reflete a outra face da artista: signo importante para a temática do show. Antes, Flávio remodela completamente o espaço cênico do Teatro Casa Grande (RJ). Propõe uma inclinação para o palco espelhado, faz a prancha avançar sobre a plateia e concebe um anexo plano para o piano. Cria ainda bandeiras que, a partir do palco, envolvem o público, erguendo-se verticalmente. Nestes tecidos suspensos, Flávio utiliza pela primeira vez em um cenário a técnica da serigrafia. Ele aplica desenhos de pombas em pleno vôo. A mesma simbologia fora também empregada no encarte interno do disco, composto por fotos da ave entre letreiros e prédios. O figurino, em tons de dourado e com tecidos opulentos (como o veludo), faz referência ao ouro, ao luxo, ao sucesso.