“Os pássaros não se recordam de suas ações e das ações dos outros. Por isso, eles retornam aos antigos lugares”.
O texto de autoria desconhecida recitado por Maria Bethânia logo após a canção “Começaria tudo outra vez” (Gonzaguinha) expressa com precisão o sentido deste show dirigido por Fauzi Arap. A intérprete surge como um pássaro que anuncia a chegada do sol após uma longa noite – a ditadura que tardava terminar. Pássaro da Manhã foi concebido, em 1977, para ser mais que um clamor pela Anistia. O espetáculo era um presságio para o retorno dos brasileiros expatriados. O augúrio estava na canção de exílio “Sabiá” (“Vou voltar / sei que ainda vou voltar”, de Chico Buarque e Tom Jobim), entoada pelos músicos. Especialmente, Bethânia cantava o regresso de dois “caros amigos”: o diretor Augusto Boal e o poeta Ferreira Gullar. Flávio metaforizou esse desejo de liberdade dando aos vôos de Bethânia um cosmos azulado, onde ressonava tranquilo seu canto proibido. Para tanto, utilizou malha tensionada e tingida.
Como asas de um enorme pássaro cor de céu, a estrutura envolvia abstratamente o espaço cênico e avançava para as laterais do teatro. Mais uma vez, Flávio lança mão da projeção do palco sobre a plateia, estilhaçando a quarta parede e modificando a arquitetura cênica. A proposta é uma rampa de frente sinuosa e espelhada que amplia a boca de cena. O figurino concebido por ele integra-se perfeitamente à atmosfera celeste, com aplicações brilhantes em azul e dourado – signo dos raios da manhã que a intérprete anuncia. A transparência e leveza do tecido investiam de suavidade os pousos do pássaro.
ASSISTENTE DE DIREÇÃO TERESA ARAGÃO ASSISTENTE DE CENOGRAFIA LOIRA ...