Sobre o palco italiano e fazendo uso de sua típica maquinária, Flávio Império constrói os diversos espaços e épocas por onde passa a saga biográfica da compositora Chiquinha Gonzaga através de diferentes composições entre telões de fundo, elementos móveis e construções fixas no proscênio. Enquanto o desenho dos figurinos sugere os diferentes períodos da história, a criação de atmosferas especiais a cada cena rege a plasticidade do espaço.
Pontuados muitas vezes pela transparência dos materiais empregados, revezam-se em cena, através das varas do urdimento, o ciclorama de malha tensionada tingida (dividido em faixas transpassadas, de maneira a permitir a passagem dos atores), o telão estruturado em sarrafo e revestido em tecido esticado e os cortinados translúcidos, transformados em cena aberta em clássica cortina para a cena do Baile.
Como elementos fixos camarotes e balcões laterais partem do proscênio e avançam sobre a área da platéia, emoldurando as entradas, enquanto duas pontes móveis - escadas com plataformas - criam diversas situações ao serem reposicionadas em diferentes composições.
Loira Cerroti, assistente de cenografia, conta que Flávio Império foi seduzido pela produção de flores de papel crepon apresentadas a ele por uma das camareiras durante a confecção dos cenários. Como era seu costume, aproveitou o acaso de ter entre os funcionários da casa tal habilidade, e criou, para a cena final, uma cortina de flores de papel, elemento que repetirá no cenário de seu próximo trabalho Maria Bethania, 20 anos de paixão.
Chiquinha Gonzaga, Ó abre alas, com texto especialmente escrito por Maria Adelaide Amaral, foi a terceira montagem da parceria do diretor Osmar Rodrigues Cruz e Flávio Império, como cenógrafo e figurinista, para o Teatro Popular do Sesi. A proposta de realização de um espetáculo de apelo popular inspirou mais essa produção da casa, baseada no formato do palco italiano e explorando os recursos cênicos, bastante completos, que o equipamento do teatro da avenida Paulista oferecia.
Entre diálogos e muita música a peça conta a história de Francisca Edwiges Gonzaga, pianista, regente e compositora que, em meio às adversidades, conseguiu cumprir sua vocação de artista e cidadã consciente.
Suas setenta e sete partituras e mil peças avulsas fizeram, durante décadas a alegria dos saraus e das casas de espetáculo, mas não se poderá dizer que sua vida, não menos intensa, tenha sido alegre e prazeirosa. Vencendo preconceitos e barreiras da corte, não hesitou em romper seu casamento sem amor, arranjado pelos pais, ou mesmo em unir-se apaixonadamente com outro homem.
Por fim abandonada pela família valeu-se de seu querido instrumento de trabalho, o piano, para sobreviver, tocando em salões dançantes ou em salas de espera de cinema. Apoiada pelos amigos - poetas, escritores, jornalistas e, como não poderia deixar de ser, a boemia – não sucumbiu em solidão, pelo contrário, continuou atuante em sua profissão e também em inúmeras campanhas políticas e reinvindicações da classe.
DIREÇÃO (ASSISTENTE) CELSO RIBEIRO ASSISTENTE DE CENOGRAFIA LOIRA CERROTI ADEREÇO WAGNER ...