ARTES CÊNICAS » TEATRO

ANDORRA (1964)

Novamente trabalhando sobre o "palco-sanduiche" do Teatro Oficina, Flávio Império concebe solução original. Se outrora desenhou o espaço de ação explorando a verticalidade do teatro - Um bonde chamado desejo e Todo anjo é terrível - agora toma como base do jogo os recursos da horizontalidade, construindo um universo visual em branco e preto.

O espaço do palco, conformado por altas superfícies brancas laterais, recebe os cenários móveis. Cada ambiente da cidade é apresentado por plataformas sobre rodas, compostas pelo mobiliário e objetos característicos, que se revezam em cena utilizando os corredores laterais às duas platéias. Painéis em backlight trazem desde dizeres e anúncios típicos do teatro épico para a praça central de Andorra, como também desenham o vitral da sacristia conformando o espaço para a importante cena da "paramentação" do Padre.

Os figurinos e a maquiagem criavam figuras surpreendentes a partir de enchimentos e da confecção de roupas em materiais pouco convencionais, em uma abordagem claramente brechtiana.

Em épocas que Andorra era uma aldeia branca e generosa, o pai de Andri, não querendo assumir a paternidade fora do casamento, inventa que seu filho é uma criança judia adotada e o traz para o seio da família. Em outros tempos adotar alguém de uma raça perseguida era sinal de compreensão. Com o passar do tempo as coisas se modificam. A cidade vizinha, dos homens pretos passam a perseguir judeus e exigem da população de Andorra que os denuncie. Andri não é judeu, mas nem ele mesmo, nem a população acreditam no contrário, apesar do pai confessar sua mentira. Na Praça Pública, o Inspetor de Judeus classifica-os. Andri será o único qualificado como judeu. A mãe adotiva, a irmã e o pai protestam contra a prisão, mas a força crescente de uma imagem forjada é indestrutível. Dos bolsos revistados de Andri caem moedas e ele se nega a entregar o anel que recebeu da verdadeira mãe. Gestos cabíveis de um ser acuado, são imediatamente classificados como reação judaica.

A população, após a prisão e sacríficio do rapaz, finge que nada aconteceu e que Andri não foi morto. Tudo continua em paz. Apenas a irmã enlouquecida começa a pintar de branco o calçamento da praça procurando recuperar à pureza carcterística da cidade de outrora. No programa a indicação: Andorra não tem nenhuma relação com o Principado de Andorra, país existente na Cordilheira dos Pirineus, é uma cidade imaginária e simbólica.

Max Frisch (1911-1991) romancista, ensaísta e dramaturgo foi considerado uma das figuras mais marcantes da intelligentsia suíça. Muitas de suas peças foram criadas no Schauspielhaus, de Zurique, fortaleza do teatro antifascista, ponto de reunião de suíços e imigrados.

Estreada no Teatro Oficina em 10 de outubro de 1964, Andorra vai além de um texto anti-semita. Mostra o perigo da criação de imagens na mente humana, gerando a intolerância e a crueldade. Concebida seis meses após o golpe militar no Brasil era o protesto, ainda que sutil, do Teatro Oficina contra o regime ditatorial que se instalava no país.

Estréia
10 de outubro de 1964
Teatro Oficina
São Paulo - SP

Autoria
Max Frisch

Tradução
Mário da Silva

Direção
José Celso Martinez Corrêa

Assistente de Direção
Fernando Peixoto

Cenografia
Flávio Império

Figurino
Flávio Império

Iluminação
Domingos Fiorini

Música e sonorização
Cláudio Petraglia

Trilha sonora
Cláudio Petraglia

Realização
Cia Teatro Oficina Ltda

SONOPLASTIA GILBERTO P. DA SILVA CENOTÉCNICA ARQUIMEDES RIBEIRO MAQUINISTA ADOLFO ...

DEPOIMENTOS

ANDORRA, MONTADA NO TEATRO OFICINA, EM 1964, NA ARENA ANTERIOR AO INCÊNDIO, ...

FLÁVIO IMPÉRIO

… AÍ FOMOS NOS ENCONTRAR EM ANDORRA _ ERA PARA SE FAZER UMA PEÇA ...

JOSÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA
CENÁRIO
ITINERÂNCIA
FIGURINO
EM CENA
PROGRAMA
CARTAZ
REPERCUSSÃO